01 agosto, 2006

A parte que nos cabe

Cavocando baús e gavetas, encontrei esse texto que escrevi em junho de 1999, e foi publicado no jornal ValeParaibano na mesma época. Segue:
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Discussão sempre atual e recorrente no Brasil, mais uma vez o tema Cidadania volta com força renovada nos meios políticos, acadêmicos, comunitários, religiosos etc., visto a crise por que passa (novamente!) o Brasil e todas suas consequências sociais.

Desemprego e cortes nas verbas públicas para fins sociais só vêm agravar a penúria de áreas como educação, saúde, segurança. Situação que, tomando de assalto o indivíduo desprevenido, fazem-no questionar sobre o significado de cidadania, coisa com que raras vezes --ou nunca-- pôde ter contato.

Com argumentos que vão da nossa formação histórica, a cultura viciada de cinco séculos de paternalismo, colonialismo --a coroa só mudou de lado do Atlântico-- etc. etc., nada na verdade justifica a miséria e a situação de marginalização da maioria esmagadora da nossa população, sem acesso aos itens mais básicos que caracterizam a cidadania.

Vem à cabeça, de imediato, a idéia de desrespeito para com os direitos básicos de todos: desrespeito do poder público, dos governantes, dos decisores, enfim, dos que traçam os nossos rumos à nossa revelia. Não há dúvida, realmente, de que as atitudes dessas classes são as principais na vida da sociedade como um todo e com efeitos --sempre-- de grandes proporções.

Entretanto, se formos nos aprofundar na idéia do respeito aos direitos e vislumbrar o nosso dia-a-dia é fácil reparar como anda tão esquecido esse valor básico para a convivência em sociedade. Tanto assim que um valor negativo --o egoísmo-- toma conta de todos e acaba, nesse contexto de perda de parâmetros, tornando-se legítimo. Afinal, "se ninguém me garante, eu tenho que fazer isso por mim só". Não é mais uma corrida pela garantia dos direitos, mas um vale-tudo para não ficar para trás e "cada um que se vire". É nessa hora que surgem os espertalhões, aproveitadores que, para garantir o seu e "auxiliar o cidadão desfavorecido" --mediante uma pequena taxa-- se utilizam dos mais variados artifícios para burlar o direito estabelecido e atingir um objetivo. Os fins justificam os meios.

Claro que há exceções. Mas são esses métodos que desfiguram e desvirtuam instituições e regras, corroendo suas fachadas e relegando seus estatutos a um canto empoeirado do arquivo-morto. E uma nova ordem é estabelecida: a do crime organizado, das máfias corporativas, da corrupção generalizada. Resultado: caos administrativo, descontrole da coisa pública e população a ver navios. Afundando.É preciso um resgate de valores realmente perenes e atemporais. Modismos e tendências têm o seu tempo. E quando se esgotam o que fica é o saldo de mais uma experiência humana.

Mas que valor é esse, perene, que pode vir a resgatar uma convivência verdadeiramente sadia entre pessoas? Se apararmos as arestas das diferentes ideologias políticas e religiosas e tentar definir a congruência entre todas, parece que o que sobra é só o respeito mútuo. Não somente aquele respeito institucional às diferentes raças, credos e culturas, mas o respeito a tudo e a todos que nos cercam no dia-a-dia. No trânsito, no trabalho, na escola, em casa, no lazer, com as pessoas e também com o meio em que vivemos. A iniciativa de uma grande indústria de não poluir o meio-ambiente é proporcional a cada um de nós não jogar o papel de bala na rua.É sempre bom lembrar que as instituições são feitas por pessoas. Portanto o respeito mútuo entre atendente e público talvez seja a melhor receita para se acabar com as filas, num exemplo apenas ilustrativo. Burocracia também é desrespeito.

O tão propalado --mas pouquíssimo praticado-- papel social das empresas, se bem definido e adotado efetivamente, seria, com certeza, um alívio considerável para o desemprego em todo o país.

Enfim, as vertentes são inúmeras mas, quem sabe um pouco mais de cordialidade, educação e respeito não sejam um bom (re)começo para todos nós?

Afinal, respeito é bom e, não só eu, mas todo mundo, gosta.

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